Lançado em 1980, Grace and Danger é um dos discos mais perturbadores do cantor e compositor britânico Jonh Martyn (1948-2009), não pela experimentação - sua marca registrada -, mas pela enorme carga emotiva empregada nas nove faixas que o compõem; chega a ser difícil assimilar as letras de Looking' On e de Hurt in Your Heart, tamanha a sinceridade e clareza com que tratam do divórcio turbulento pelo qual Martyn passou no final dos anos 70. A sequência em que as nove canções são apresentadas alterna momentos de êxtase e depressão e a voz de Martyn acompanha essas mudanças com o apoio da segunda voz de ninguém menos que Phil Collins, que também se encarrega brilhantemente da bateria, tornando o disco ainda mais extraordinário.
Baby Please Come Home é uma das faixas mais bonitas de Grace and Danger, e também uma das mais tristes. Ela ajuda a entender por que Chris Blackwell, dono da gravadora Island Records e amigo do casal Martyn, se recusou a lançar o disco em um primeiro momento, até que John o convenceu de que precisava lançá-lo para conseguir se livrar daquelas emoções.
O álbum é uma implosão. As músicas dão lugar à fumaça que se ergue e se expande, turvando a visão (ou a audição) de todos que acompanham a tristeza e a angústia de um grande artista confrontando os erros que cometeu durante seu casamento com Beverley Martyn.
Esse não é o disco mais importante na longa carreira de Martyn. Solid Air e One World foram os trabalhos que o afirmaram como um dos músicos mais originais e talentosos que esse humilde planeta azul conheceu, suas experimentações e seu gênio deram grandes contribuições à guitarra elétrica e transformaram o rock, o folk, o jazz e o blues em um só estilo musical, o seu estilo.
Em 2015, seis anos (que parecem seis dias) após a morte de John Martyn, em tempos de Adele e outras "sofrências", vale a pena recorrer a Grace and Danger para se ter uma real dimensão do que é traduzir em música o sofrimento de um homem.
DANILO DIÓGENES Estudante de Literatura e colunista do ORNITORRINCO |
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