Não presenciei esta história, mas ainda que fosse inventada, serve bem para fazer conhecer – é essa sua principal disposição – certa marca típica do caráter baiano. Caráter que a rigor qualquer cidadão do mundo está apto a manifestar. Contudo, vivendo na Bahia, e quem sabe em mais alguns outros ecossistemas do mundo, se verá inapelavelmente nutrido por esse fruto que ali se planta e se colhe abundantemente.
O caso aliás me foi contado por um capixaba entusiasta do vatapá e teve direito a mimetismo com sotaque e vocabulário típico, portanto, alegoria carregada de afetivo conhecimento. Diante de tal compreensão, a invocação escrita será apenas eco do timbre orgânico alcançado pelo espírito do aimoré ao relatar a anedota fábula metonímica.
Deu-se que Jimmy Page, o cultuado guitarrista do Led Zepellin, andava na principal rua do já celebrado município de Trancoso quando, pedalando uma bicicleta Monarck surrada, um aparente tabaréu baiano de nome ignorado vai em sua direção. Num movimento inesperado, naquelas paragens que outrora foram dignas representantes de uma inocente “vida besta”, o condutor da baique freia bruscamente e interpela o condecorado pelos escombros do império:
— Ô Dimmi Peid! Ô Dimmi Peid!
— Hi!
— Ô Dimmi Peid, se ligue, num se faça de otário não! Você ficou de aparecer lá na casa de mãinha domingo e cadê?
— Sorry, sorry.
— Sorry uma porra Dimmi Peid! Tu tá pensando o quê hein? Mãinha ficou te esperando lá, fez bolo de fubá, fez tapioca, passo o café e tu não apareceu Dimmi Peid!
— Sorry, sorry.
— Dexa de sorry Dimmi Peid! Num se faz uma desfeita dessa com minha mãe não. Mãinha preparou tudo e tu tinha dito que ia aparecer. Num apareceu nem deu satisfação. Ô Dimmi Peid, já vô logo lhe dizeno: num me vá mais na casa de mãinha não!
E o baiano sai pedalando a bicicleta depois de entregar a notícia que tinha que fazer chegar.
Júlio Reis é poeta, escritor, jornalista e colunista do ORNITORRINCO.
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