OLIVER SACKS E A MORTE

Conheci o Oliver Sacks num livro sobre enxaqueca. Explico meu interesse na compra: desde os meus cinco anos, volta-e-meia, sinto uma pontada na cabeça. Já fiz tomografia, ressonância, já fui em médico conceituado e nunca descobri porque sinto uma faca entrar na minha cabeça, só por trás, durante uns dois segundos acho que vou morrer e minutos depois nem tenho memória da dor, não fica dolorido. Um mistério, uma demência. Um ouriço no meu cérebro.

Daí que um dia, perambulando num sebo da vida, descobri o tal livro sobre enxaqueca, uma enciclopédia, onde li trocentos casos de tipos de dor de cabeça e concluí que eu não morreria disso. Talvez futuramente, mas eu era apenas mais uma insana com um metabolismo esquisito e uma dor de cabeça que alguma porcentagem do mundo tem.

Depois ganhei o livro "Alucinações musicais" - já falei sobre ele aqui no ORNITORRINCO. O livro poderia ser interessante pelos relatos, claro, mas o jeito do Oliver Sacks (neurologista e psiquiatra), contar, torna tudo mais agradável. Tudo é a maneira.

Esse breve texto é para dizer que soube que ele vai morrer. Sim, todos nós. Mas foi descoberto um câncer terminal no fígado dele. E aí que ele escreveu um texto bonito sobre isso. Então, esse meu texto não serve de nada, é apenas um bastidor pobre do que queria compartilhar com vocês.

Segue a vida.

LETÍCIA NOVAES Cantora, compositora e colunista do ORNITORRINCO Site | Twitter Facebook | Instagram

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