O escritor Neil Gaiman recebeu uma pergunta em seu blog sobre a marca de vendas do livro "50 tons de cinza". A pergunta foi feita por um leitor que parecia angustiado com o sucesso popular do livro de E. L. James em comparação com outras leituras de seu gosto.
O leitor informou que "50 tons de cinza" vendeu mais do que Ray Bradbury conseguiu vender com toda a sua obra em sua vida. "Isso me preocupa e me deixa com medo de que se torne cada vez mais difícil encontrar boa literatura no futuro. Você acha que a comercialização da literatura colocou a boa e valiosa literatura à perigo?"
Normal se questionar do porquê de certos produtos venderem mais do que outros, de como um livro entra na lista dos mais vendidos enquanto outro passa despercebido. Vender muito e fazer sucesso incomoda. Eu não li e nem pretendo ler "50 tons", mas só de conhecer o enredo e ter escutado alguns amigos comentarem trechos, consigo entender qual o motivo do sucesso. Além do que a margem de pessoas que compram os livros e não lêem é enorme.
Gaiman é um escritor inglês de sucesso mundial que vive do dinheiro que ganha com sua literatura, provavelmente vendeu mais do que Bradbury, e seus livros não são considerados difíceis ou profundos. É literatura de fantasia, bem feita, bem escrita e seu trunfo é seu vasto conhecimento sobre arte, mitologia e sua criatividade ao misturar isso tudo com o mundo de hoje na ficção. Por isso sua reposta não parece recalque ou inveja de ter seu trabalho sobrepujado pelo caráter comercial de outra.
Abaixo a resposta do Neil Gaiman em tradução tosca feita por mim:
Se você estiver curioso, veja as listas de bestsellers do passado. Você vai encontrar vários livros que venderam um inacreditável número de cópias quando foram lançados. Tenho certeza que The Revolt of Mamie Stover também vendeu mais do que Ray Bradbury vendeu em toda a sua vida. Você já leu? Ouviu falar? De cabeça lembro Peyton Place, ou The Gospel According to Peanuts, ou The Ginger Man, ou Jonathan Livingstone Seagull, todos bestsellers, sem dúvidas venderam mais do que tudo o que Ray Bradbury escreveu. No entanto, quando a moda passa a maioria desses livros voltam para o vazio, e vão, se não estiverem esgotados, para o mundo onde ninguém consegue entender o porquê deles terem vendido tanto. (Você sabe quem foi Gilbert Patten? Ele vendeu uns 500 milhões de livros em sua vida...)
Enquanto isso Ray Bradbury vendeu um monte em 1956, e mais um monte em 2006 (Fahrenheit 451 sozinho vendeu mais de 5 milhões de cópias), e encontra leitores para seus livros todos os anos. E eu suspeito que daqui a cem anos ele continuará sendo lido...
Então honestamente eu não me desesperaria se eu fosse você.
Nada mudou. Alguns livros são, inexplicavelmente, bestsellers. É assim que tem sido por cento e cinquenta anos ou mais.
Leia os livros que você ama, conte às pessoas sobre os autores que você gosta, e não se preocupe com o resto.
Essa parece ser a melhor resposta e pode te acalmar a continuar lendo seu Dostoiévski sem angústia (impossível).
Leia também
- VENTOS DE AGOSTO
Nenhum comentário
Postar um comentário