Ontem fui ao Audio Rebel ver Jards Macalé, Thomas Harres e Kiko Dinucci, num projeto chamado Mulher Minibe – adoro cacofonia, adoro quando duas palavras parecem uma coisa só. Nem sei se a ideia deles é de mulher-me-inibe ou mulher-mini-be. Be, as in english, enfim. Só sei que fui sozinha, e fiquei atrás. Sempre fico atrás no Audio Rebel para possibilitar que pessoas mais baixas do que eu possam enxergar.
O lugar estava bem cheio e tanto Jards quanto Kiko tocaram sentados. Thomas idem, mas sendo o baterista, já esperava por isso. Fiquei lá atrás mesmo e mesmo tendo 1.84m (infelizmente cresci 1 cm nos últimos 5 anos, afff), eu só conseguia ver o topo das cabeças dos artistas. E as cabeças da plateia.
Eu era invadida por um som, mas não via os instrumentos, eu era cutucada por letras, mas não via bocas se mexendo. A luz do lugar me ajudava a viajar numa cena esquisita: cabeças mexendo. Do pescoço pra baixo, era breu, eu não via os movimentos. Mas as cabeças, essas mexiam, e de repente me pareceu que eu estava na abertura de uma Olimpíada, bem louca, e havia um pano gigantesco que fingia ser o mar, e apenas cabecinhas para fora do pano. Não havia coreografia nessa olimpíada da loucura, claro. Mas não havendo, era bem bonito também, e o topo da cabeça branca do Jards aparecia e desaparecia. O cabelo do Thomas quicava mais, o do Kiko eu não via quase nunca. E o som, esse ia, por buracos antigos e inéditos, me irritando, me emocionando, me amaciando.
E de repente Jards começa a cantar "Me sinto muito contente, completamente contente, me sinto feliz, me sinto muito feliz, completamente feliz..." Claro que numa versão de loucura e improviso e demência e risco e sustos e sei lá mais o quê. O balé das cabeças e o som já tinham me domado. Fechei os olhos e quis acreditar que eu também me sinto contente. Muito contente.
Mas não me arrisco a falar.
Clica e chora
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Eu era invadida por um som, mas não via os instrumentos, eu era cutucada por letras, mas não via bocas se mexendo. A luz do lugar me ajudava a viajar numa cena esquisita: cabeças mexendo. Do pescoço pra baixo, era breu, eu não via os movimentos. Mas as cabeças, essas mexiam, e de repente me pareceu que eu estava na abertura de uma Olimpíada, bem louca, e havia um pano gigantesco que fingia ser o mar, e apenas cabecinhas para fora do pano. Não havia coreografia nessa olimpíada da loucura, claro. Mas não havendo, era bem bonito também, e o topo da cabeça branca do Jards aparecia e desaparecia. O cabelo do Thomas quicava mais, o do Kiko eu não via quase nunca. E o som, esse ia, por buracos antigos e inéditos, me irritando, me emocionando, me amaciando.
Mas não me arrisco a falar.
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