EXPECTATIVA x REALIDADE EM A NAMORADA PERFEITA


Quem nunca se emocionou com os amores românticos da literatura, aqueles que não se realizam, que são interrompidos pelos fins trágicos? Todo mundo tem o seu favorito, tenho o meu: Os sofrimentos do jovem Werther. Os mainstreams diriam Romeu e Julieta. E tem os que se lembrariam de Tristão e Isolda. Ainda no século XXI, somos influenciados pela cultura de que amor bonito é amor não concretizado. Não temos famílias inimigas, mas obstáculos contemporâneos são equivalentes para mentes pós-modernas. Stalkeamos redes sociais e descobrimos alguma traição do companheiro (talvez uma curtida na foto da garota de biquíni seja a tempestade no copo d’água) e passamos a compartilhar a ideia de que o amor, para render história, tem que sobreviver ao mundo online.

O filme Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (2012), dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris (Pequena Miss Sunshine) e roteirizado por Zoe Kazan, que também interpreta Ruby, conta a história de Calvin no universo do realismo fantástico. Um escritor em crise criativa idealiza uma suposta namorada, que surge em seus sonhos, e consegue escrever algumas páginas do livro, até que Ficção X Realidade se chocam: o criador se depara com sua idealização corporificada de vestido e meia calça preparando o café da manhã em sua cozinha. 

Calvin precisará se adaptar a realização do seu sonho. É difícil acreditar que sonhos se realizem em uma cultura que exalta a descrença da felicidade e que as fantasias estão limitadas às teclas da máquina de escrever do escritor.



O protagonista descobre que o amor correspondido é tão complicado quanto o platônico. Ruby Sparks tem vida própria e consequentemente suas próprias vontades. Quando Calvin percebe que a namorada deixou de ser uma idealização para transformar-se em realidade, volta a reescrever a história de Ruby, manipulando a sua personalidade, um mal que aflige muitos casais: querer que o outro realize seus sonhos, quando deveria se apaixonar pelo o que o companheiro tem a oferecer.

Quanto maior o vazio existencial, maior a idealização do amor, aquela sensação de que o ser amado irá colorir sua vida, respondendo a todas as suas expectativas, aumenta com a vontade de chegar ao tal fim do arco-íris. Calvin é um cara egocêntrico e sente-se confortável em cultivar uma vida solitária, mesmo negando o fato. E a gente gosta desse personagem, há uma identificação com a melancolia e desajuste em relação à vida. Quem não se sente assim quase sempre? (Prefiro acreditar que todo mundo é como o Calvin e eu.)

O personagem de Paul Dano não é o homem perfeito, talvez ele nunca seja o personagem idealizado daquele romance romântico. Ruby não é o que Calvin havia sonhado nas noites anteriores. Eles devem aprender a conviver com os conflitos de um relacionamento real. Passear entre realidade e expectativa pode ser bastante agridoce e a graça é ser imprevisível. Que as borboletas no estômago comandem a dança.


Aline Vaz é professora e escritora.

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