Enquanto nos aproximamos do final de 2013, lembro que tenho um grande amigo que está – neste exato momento – tentando celebrar o fim do ano de 2011. É preciso explicar que ele vive agora, no mesmo tempo que todos nós, mas decidiu realizar uma subversão cronológica e congelar o tempo com o firme propósito de se dedicar aos estudos para se tornar um diplomata. Orgulho-me dele e fico a admirá-lo por esta coragem. Mais ainda pela proeza de ter parado no tempo. Ou de ter parado no sonho e se desgarrado do tempo que corre para todos, mas não para esse meu amigo até que ele queira abraça-lo de volta.
Com uma barba modelo 2011 e um semblante rejuvenescido, ele costuma aparecer de vez em quando para um café ou um almoço e é sempre um prazer. Uma sorte tê-lo por perto, mesmo que a nossa coexistência já caminhe para quase três anos de distância espaço-temporal. Não dá para esconder que esta situação nos confunde em algumas situações. Mas nossa amizade supera relógios não sincronizados, e-mails de épocas distintas e outros exemplos capazes de provocar lapsos temporais.
O interessante é que isto não afeta em nada nossa amizade. Pelo contrário. Impressiono-o com notícias de agora (o meu agora), ao falar das manifestações de junho, a luta do povo nas ruas, o surgimento da Mídia Ninja e a rasteira bem dada na chamada “grande mídia”, políticos condenados pelo STF, a saga do ex-analista de inteligência americano Edward Snowden e outros assuntos futuros (para ele) que tanto o encantam. Não há para ele loucura ou conflito nessa discussão de assuntos que estão à frente de seu tempo. Embora ele tenha decidido parar em 2011, não perdeu o hábito de ler jornais, navegar por portais de notícias, livros de história do Brasil e do mundo, economia, política e outros assuntos e temas caros ao concurso de admissão a carreira diplomática.
Por outro lado, é a minha vez de ficar extasiado quando ele (no agora dele) refresca minha memória ao discorrer sobre os efeitos da chamada Primavera Árabe, a catástrofe nuclear em Fukushima, no Japão, o (suposto) assassinato de Bin Laden pelos americanos, a crise na zona do Euro, a morte de Steve Jobs e ainda do grande Moacyr Scliar, escritor que nós dois tanto admiramos, tendo ele inclusive já me presenteado com duas das suas obras. É a minha vez de ficar arrebatado quando ele me relata os detalhes e tece opiniões com o frescor daquele tempo e mantém preservado o calor dos acontecimentos.
Em questão de alguns dias, para muitos, um novo ano começa. O comércio baterá recorde de vendas de roupas brancas e Roberto Carlos fará mais um especial de fim de ano na TV. Diferente da minha infância ou da minha juventude já não me mobiliza mais tanto essa vontade em decidir sobre minha vestimenta ou o lugar onde passarei a “virada”. Casei com uma mulher incrível que não veste branco no dia 31 e celebra o ano novo no dia 20 de março. Amo-a ainda mais por isso. E como acabei de relatar, tenho um amigo genial que decidiu parar em 2011. Experiências e convivências valiosas que me tiram do lugar comum, das convenções e caretices repetidas ciclicamente pela maioria dos que vivem o mesmo tempo que eu.
Aproveito então a ocasião, mesmo soando clichê, para desejar um Feliz 2012 a Breno, esse amigo a quem dedico o “último” texto de 2013. Um feliz ano novo que pode ser agora, ou ontem, daqui um mês, ou quando ele quiser que seja.
Gabriel Camões é palhaço, ator, poeta, jornalista e colunista do ORNITORRINCO.
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