Depois do primeiro beijo, do primeiro frio na barriga, da primeira noite, da primeira vez que a noite se estende até o dia, você quer entender ainda mais. E começa a fase do name dropping, de querer mostrar seu mundo, o quanto você pode ser interessante, divertido, gente boa. Olha só meus amigos como são legais, talentosos, queridos, brilhantes. Olha minha casa, minha vida, meus livros. Eu quero saber o que você ouve, quero te mostrar essa banda aqui, qual é seu filme preferido?
E tanto faz se o mundo não é o mesmo, será que no espaço entre eu e você nesta cama, a gente consegue achar alguma coisa em comum?
A madrugada se estende, o riso faz eco no quarto, o sussurro, o grito abafado.
Você não sabe ainda o que é, nem quer saber. Porque na verdade tem um feeling daqueles que se adquire com o tempo, que mesmo que os dois corpos façam tanto sentido juntos, vocês não pertencem ao mesmo lugar.
Não, não nascemos um para o outro e daqui a uns dias a gente talvez nem se fale mais. Mas mesmo assim você curte a melancoliazinha e a pseudo saudade que aparece nos últimos segundos antes de dormir.
É quase confortável sentir isso. Porque você sabe que vai passar só pra daqui a pouco você começar a sentir tudo de novo, com outro corpo, outro cara, outra casa e isso vai enchendo a sua vida de experiência, paixõezinhas, pessoas, novas músicas, novos amigos alheios, novas frases para impressionar.
Mas ainda assim, no meio desse eterno retorno, o que importa é se lembrar que tudo isso só faz sentido quando você está aqui, sentada no sofá antigo da sua nova casa, ouvindo “Pale Blue Eyes” pela quarta vez, do jeito que você gosta, tendo a noção exata de que depois de ter exterminado os seus próprios fantasmas, você não precisa lidar com os de mais ninguém.
É pra ser leve. Então seja.
Paula Gicovate é roteirista e escritora.
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